quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

igreja, esposa de Cristo



A imagem do corpo de Cristo aplicada à Igreja não diz tudo sobre o seu mistério e a relação com o seu Senhor. Não há uma identidade total ao nível do ser entre a Igreja e Jesus Cristo.  O Ressuscitado não absorve a Igreja de tal modo que ela fique despersonalizada e os seus membros percam a própria consistência. Há outra imagem nos escritos bíblicos que sublinha a distância existente entre Cristo e a Igreja: é a esposa. Embora sendo realmente o Corpo de Cristo, a Igreja é também distinta do corpo pessoal do Ressuscitado, como o corpo o é da cabeça. “A Igreja é Cristo mas é também um ‘Tu’ que está perante Ele. Não obstante toda a sua intimidade, há um face a face de Cristo e da Igreja que não se apaga”. É neste sentido que aponta a imagem da Igreja como esposa de Cristo.  
A esposa é uma imagem simbólica igualmente significativa como a do corpo. Exprime a relação com o esposo marcada pelo amor, a entrega e a união recíproca de um ao outro, a dedicação e ajuda mútua. Evoca a beleza, o encanto, a presença e companhia de um ao outro, a comunhão, mas também a distinção, a diferença que existe entre ambos e a tensão que daí pode advir. Envolve o valor da fidelidade mas faz presente também o risco, a tentação e a ameaça da infidelidade, da ruptura do laço do amor conjugal. O fruto da relação faz com que esta se torne fecunda na maternidade e paternidade, que resulta da união íntima do esposo e da esposa.
Que diz a imagem da esposa sobre o mistério da Igreja? Ela é usada, por exemplo, na carta aos Efésios (5, 21-33). São Paulo centra-se na figura de Cristo como esposo que ama a Igreja, seu corpo e sua esposa. As duas imagens aparecem praticamente sobrepostas.  Como se manifesta o amor de Cristo pela Igreja? Ele é o seu salvador, entregou-se por ela, “para a santificar, purificando-a, no banho da água, pela palavra” (5,26). Mais, “quis apresentá-la esplêndida, como Igreja sem mancha nem ruga, nem coisa alguma semelhante, mas santa e imaculada” (5, 27). E ainda, Cristo ama a Igreja, alimenta-a e cuida dela, tal como cada um faz ao seu corpo por amor a si mesmo (cf 5, 28-29).
Desta relação de amor de Cristo pela Igreja, deste mistério do amor divino, o Apóstolo tira as consequências: para a vida conjugal, exortando os maridos e amar as esposas e estas a corresponderem com o respeito pelos respectivos maridos (5, 25.33); e para a comunidade cristã, recomendando aos seus membros que se submetam uns aos outros, isto é, que se amem, se apoiem e se ajudem mutuamente a partir dos laços comuns que os unem a Cristo e entre si.
Cristo, portanto, ama a Igreja como esposo. Dedica-se a ela, presta-lhe toda a sua atenção, cuida dela com ternura, faz-lhe todo o bem que pode, deu e continua a dar a sua vida por ela. Purifica-a, torna-a bela e assim, pelo seu amor, leva-a à plenitude da experiência do amor. Então, a Igreja não pode deixar de corresponder em igual medida, entregando-se totalmente ao seu esposo, procurando corresponder na reciprocidade ao dom que de si mesmo Ele lhe faz. Assim ela une-se a Ele vivendo a comunhão no amor mútuo. Embora distinta de Cristo, a Igreja é chamada  a unir-se a Ele. A proclamação e o acolhimento do Evangelho, celebração dos sacramentos e da liturgia, e em especial a Eucaristia, o derramar do Espírito com os seus dons e o reconhecimento e recepção dos mesmos são as principais expressões mediante as quais Cristo e a Igreja vivem o seu amor recíproco. Cristo entrega-se à Igreja e esta a Ele nas suas acções e na sua vida segundo a fé.
Cada comunidade cristã é chamada a participar do mistério de amor conjugal de Cristo com a Igreja. Nela igualmente todos nós somos pessoalmente amados por Cristo e convidados a corresponder com o próprio amor por Ele e pela Sua esposa. A relação com Cristo e a relação com os irmãos na fé são inseparáveis. Uma é fundamento e expressão da outra e vice-versa. Não se pode amar Cristo sem amar a comunidade dos seus discípulos, aquela que também Ele ama. E também quem ama a comunidade cristã está de igual modo a corresponder ao amor de Cristo.
É pela sua relação e união íntima com Cristo que a Igreja se torna fecunda, produzindo os frutos do Evangelho, que irradia pelo mundo, e da santidade nos seus membros. Desse modo ela dá glória a Deus e testemunha as Suas maravilhas.   


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